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Gigantes pela própria natureza ?





Enquanto assistia à apresentação cultural do evento de lançamento do Intercom 2013, ouvi a seguinte frase de um grupo de estudantes: "É por isso que pensam que em Manaus só tem índio e mato, insistem nesse boi bumbá''. 
Me impressiona o quão ofendidas e injustiçadas as pessoas se sentem quando são comparadas com índios e relacionadas com o ''mato''.


As pessoas que defendem esse tipo de opinião são as mesmas que quando vão ao sudeste e alguém pergunta se no Amazonas usam canoa pra ir à escola ficam com tanta raiva que são capazes de tirarem a zarabatana e a flecha de dentro da bolsa para acertar o sujeito. Elaboram mil argumentos a fim de vender a ideia de que o Amazonas tem a Zona Franca e de que TV, computador e celular que eles usam somos nós que fabricamos. 
Querem o que com isso? Prêmios para nossa mão-de-obra barata?
Esquecem (ou fingem que esquecem) que no Amazonas as pessoas usam SIM canoa para ir às escolas, ignoram o ritmo de vida que os ribeirinhos levam tentando vender uma ideia de um Amazonas totalmente descolado, atual e nos padrões bizarros do capitalismo (...)


Dizemos da boca para fora que a maior riqueza é a floresta, mas a ideia de perder a Zona Franca apavora muito mais que notícia de desmatamento. Ouvimos as bandas daqui, mas só se elas tocarem covers de bandas de fora. Adoramos o açaí de Codajás, mas o da Waku Sese é bem melhor com todo aquele leite condensado e amendoim. A virada cultural é ótima dando espaço para os artistas Manauaras, mas vamos lotar só o show da Pitty (...) Tudo isso me remete a uma frase de uma música do Cazuza cujo nome não lembro e estou com preguiça de procurar no google. A frase é "são cabocos querendo ser ingleses". Caboco, esse termo ofende. Chame de otário, mas não chame de caboco. Ui, eles são civilizados.


Enquanto pensava nisso tudo, ainda assistindo à apresentação de boi bumbá no evento, uma amiga paraense me joga essa: 
-Se isso fosse em Belém já tavam todos em pé dançando o carimbó.
De todas as coisas que me passaram na cabeça, olhando para situação toda e conversando comigo mesma o que se pode concluir é que falta identidade cultural. 
Em Recife, independente da idade, a população apoia o maracatu ou o frevo. Em Fortaleza, Patativa pode não ser o artista mais ouvido no ipod mas todo mundo conhece alguma coisa e não tem vergonha de admitir. Falar do Rio é até covardia, com a bossa nova que nunca fica velha. Não é preciso ir muito longe, em Belém mesmo o carimbó não é ridicularizado como o boi bumbá é, por algumas pessoas daqui e até mesmo o tecno brega de lá ganha proporções maiores. Tá aí a banda uó e a Gabi Amarantos para provar.
No entanto, Manaus não, o manauara é muito cool para respeitar a cultura daqui. Vejam bem a palavra que eu usei: RESPEITAR. Ninguém precisa fazer fã-clube para os artistas locais, você precisa respeitar primeiro, para abrir a mente e a partir daí incentivar (ou não).
Acontece que muita gente ainda tem a mente tão fechada que acha que a cultura musical local se resume a boi bumbá. Mas papai do céu perdoa. 


Existe um artista que sintetiza tudo isso que eu falo numa música chamada Divina Comédia. O nome dele é Nicolas Júnior. Dá até orgulho de ouvir. Pesquisando um pouco mais sobre ele, eu descobri que ele não é amazonense. Quer dizer, teve de vir alguém de fora para abrir nossos olhos e nos mostrar o quão ímpar são as nossas riquezas e nos chamar para esquecer essa frescura de querer outra cultura. Não é difícil, muito menos impossível.. se você é amazonense ou nem é mas adotou Manaus como seu lar não custa nada fazer esse pequeno favor para o estado que lhe acolhe. Não tenha vergonha dele, assuma-o, não ridicularize seu povo, seus costumes, suas gírias, suas comidas, sua música e o fato de  ser gigante pela própria natureza. 


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