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O dia em que a UFAM realmente parou

Quando a moção pedindo o cancelamento do calendário acadêmico foi aprovada por maioria de votos, eu estava bem lá atrás. Sentada no chão e um tanto cansada. A reunião tinha sido longa, durou das nove e meia da manhã até mais ou menos duas da tarde. Depois de cinquenta manifestações de conselheiros do colegiado e discentes e de tantas anotações e discursos, era interessante observar a situação com um olhar “de baixo”. As pessoas que me viam assim não achavam-me digna de atenção, não se preocupavam com o que falavam bem a minha frente. Entre manifestações de alegria e ameaças de liminares, eu conseguia enxergar o que já sabia, porém nunca tão ao vivo e em cores: a existência de “universidades” dentro de uma instituição só. Certos discursos deixaram isso bem explícito.

Nota: Essa constatação é tão óbvia que provavelmente o leitor deve estar com a mão na cara, ou um sorriso de deboche nos lábios. Mas é o que precisa ser dito, caro veterano. Então perdoe esta pobre e tão ignorante, de acordo com a frase "ela é caloura e não sabe o que faz".

No Consuni (Conselho Superior Universitário), foi possível avaliar todas essas diferenças. As diferanças entre cursos, unidades e entre os professores. Diferentes pontos de vista, impasses e necessidades foram apresentadas. Cinquenta pessoas tiveram a oportunidade de ter o microfone e falar. Em um primeiro momento, as reivindicações foram apresentadas, os motivos da greve, etc; para logo depois dar lugar a  "embate ideológico" (esse talvez não seja o melhor termo). Alguns argumentos geraram certa polêmica.

Ficou claro que o pensamento "greve não leva a lugar nenhum" ainda é considerado válido. Segundo a conselheira  Marina das Graças de Paula Araújo (Faculdade de Direito) "historicamente as greves conseguiram de 100%, apenas 10%, e no final os professores são punidos e os alunos também [...] no final fazem o período atropelado, os alunos fingindo que aprendem e os professores fingindo que ensinam", a própria também disse que os profissionais na área de Direito "são as cabeças pensantes da sociedade", tal ideia não muito bem aceita pelos presentes... "no campo jurídico!" completou ela em seguida depois de uma onda de vaias.
Também foi visto certo pensamento moralista acerca de manifestações. Nas palavras da conselheira Sônia Maria da Silva Carvalho (Instituto de Ciências Biológicas) , a manifestação da semana passada na qual estudantes mostraram seu corpo seminu foi "de mau gosto. Tudo tem seu contexto, seu limite, sua hora [...] aquela manifestação, de certa forma, acaba desmoralizando a universidade". A conselheira Arminda Rachel Botelho Mourão (FACED) repondeu muito bem as duas questões: "foram graças a essas greves que estamos aqui [...] antes o colegiado era por indicação" e "peito de fora não me ofende. O que me ofende é a corrupção".

Esses só foram alguns dos argumentos apresentados. Porém foram os que me fizeram pensar exatamente nessa existência de "classes" dentro da UFAM e de certos preconceitos. É como se certos alunos fossem melhores que outros, por fazer curso A ou B. Como se o direito de protestar tivesse que ser só aquele jeito mansinho, sem chamar a atenção. Como se a UFAM não fosse uma só.

Então, apesar de saber que os estudantes terão prejuízos, a decisão de cancelar o calendário acadêmico (para mim) foi justa. Justa porque não tratou os interesses de uns mais importantes que os de outros. Justa porque deu força ao movimento dos professores. Justa, principalmente, porque certos estudantes não foram tratados com maior importância que outros.

Enfim, a greve é fato. Não precisava do Consuni para se tranformar em realidade. Mas para aqueles que usavam isso como desculpa para "furar" a greve... minhas condolências. Da próxima vez, não se esconda atrás de ilusões. Medida judicial nenhuma vai mudar isso.

2 comentários:

  1. As cabeças pensantes da sociedade estão pensando agora o que fizeram de errado para não terem conseguido furar a greve. O que importa é que a greve esta aí e esperamos realmente que as reivindicações das faculdades federais sejam atendidas.

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